Artigo publicado no jornal Zero Hora em 27/04/2021

O critério das bandeiras adotado no RS precisa ser alterado. Não se trata de uma crítica ao sistema, mas da opinião de quem participa do processo e vê espaço para aprimoramento. Atualmente, a decisão do que abre e do que fecha está atrelada a uma base matemática de indicadores — sendo os leitos livres de UTIs uma das principais variáveis dessa fórmula. E, nessa premissa, há equívocos e visões parciais.

No pior momento desta terrível pandemia, Porto Alegre chegou a contar com mais de 1.200 leitos de UTIs. Equipes se desdobraram com dedicação e esforço. A sociedade civil agiu — como na doação de 150 respiradores feita pelo Instituto Cultural Floresta. Soluções criativas e eficientes também precisaram ser lançadas, como a transformação de leitos de internação em UTIs.

Nessa última semana de abril de 2021, Porto Alegre já apresentava 990 leitos operacionais e lotação de 91% — seja por Covid-19 ou não. Entretanto, baseando-se no número máximo que já esteve disponível e entregue, o percentual seria 74%: certamente, representando uma “bandeira” muito menos restritiva. Ocorre que, independentemente do coronavírus, outras doenças estão sendo menos diagnosticadas e tratadas — e esse atraso sempre resulta em desfechos piores. E esse fluxo represado agora está sendo recebido nos hospitais.

A fórmula do “pode ou não pode” deveria contemplar pesquisas sobre a circulação do vírus, uma política efetiva de testagem, o resguardo de quem precisa ser isolado e outras contribuições de pesquisadores. Mesmo com níveis mais controlados e o avanço da vacinação, o uso máscara e álcool em gel deve continuar, pois produz os resultados mais positivos.

Diante desse quadro, os hospitais públicos e privados da Capital têm feito a sua parte. Mesmo com realidades distintas em seus fluxos, trabalharam de forma cooperada, criaram leitos, contrataram profissionais e investiram — apesar da crise financeira. Enfim, não esmoreceram. Depois de todo o aprendizado, deve-se seguir com um melhor compartilhamento das responsabilidades e uma revisão de práticas que já não estão tendo o efeito desejado. Como disse Albert Einstein: “é preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio”.

Henri Siegert Chazan, presidente do SINDIHOSPA (Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre)