A relação entre os diversos fornecedores de equipamentos e insumos envolve uma série de desafios para o setor hospitalar. Temas como inteligência artificial, gestão de riscos e modelos de pagamento foram algumas das pautas debatidas no 4º Encontro da Cadeia de Suprimentos da Saúde, realizada pelo SINDIHOSPA (Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre), durante a Health Meeting Brasil/SINDIHOSPA nesta quarta-feira (22).

O evento integra a programação da feira, a maior do setor de saúde do Sul do Brasil, que vai até esta quinta-feira (23), no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre. Especialistas de instituições nacionais e estaduais integraram a programação da atividade.

O encontro começou discutindo o papel da inteligência e da análise de dados para otimizar esse segmento. Fabio Groff, fundador e CEO da NeoPTO, primeira startup de agentes de IA da América Latina, alertou sobre a inadequação dos modelos tradicionais de IA generativa, como o ChatGPT, para o sistema de saúde. Os riscos, segundo ele, vão desde a inconsistência do resultado até a vulnerabilidade de dados dos pacientes, que pode gerar problemas de compliance. “O agente de IA é uma máquina capaz de tomar decisões autônomas e entregar tarefas complexas. Essas infraestruturas precisam ser criadas para cuidar dos dados de tudo o que vocês fazem, adequadas ao seu gerenciamento processual”, orientou. Um projeto neste sentido está sendo construído para o Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Ricardo Galho, cofundador e CEO da 4all Tecnologia, citou algumas aplicações de agentes de IA no setor de saúde, como a análise de exames complexos em 5 minutos e a gestão de plantão dos médicos. “É preciso, primeiro, entender qual problema real queremos resolver e qual o impacto que esperamos, para usar a tecnologia e a IA em favor da saúde. O grande desafio é não querer resolver tudo de uma vez”, ponderou.

Em painel sobre a gestão de riscos na logística hospitalar, os palestrantes ressaltaram a importância de planos de contingenciamento para situações extremas. Alexandre Machado Oliveira, gerente de compras e suprimentos do Hospital Mãe de Deus, lembrou que a cadeia passou por diversas situações desafiadoras nos últimos sete anos, como greve dos caminhoneiros, pandemia e as enchentes de 2024, quando todos os pacientes da instituição precisaram ser removidos. “Nos últimos 12 meses, construímos metodologias de gestão de risco para prevenir e mitigar qualquer nova situação que possa acontecer”, contou. “A recuperação não é apenas reconstruir o que foi perdido, mas criar um sistema mais forte e preparado para o futuro”, concluiu o gestor.

Lieli Dapieve Ceolin, chefe da Divisão de Atenção Especializada (DGAE) da Secretaria Estadual da Saúde do RS, lembrou dos grandes desafios durante a enchente, da remoção de pacientes à logística de entrega de insumos para hospitais de todo o estado. “Se acontecer de novo, o Estado se estruturou muito, com várias ações e secretarias específicas para isso, a criação de um comitê gestor e um plano de trabalho com ações emergenciais e de reconstrução de médio e longo prazo”, afirmou.

Cenário dos modelos de pagamento

O modelo de pagamento de produtos e serviços de saúde foi discutido em uma mesa redonda com as perspectivas dos hospitais, operadoras de saúde e indústria farmacêutica. Juçara Maccari, gerente médica do Hospital Moinhos de Vento, acredita que o modelo atual de pagamento pode ser confortável no curto prazo, mas é inviável no longo prazo. “O risco de não aderir a novos modelos é perder competitividade e qualidade”, alertou.

Na avaliação de Daniela Medeiros, superintendente de provimento da Unimed Porto Alegre, o grande problema não é o modelo de pagamento, mas o modelo de cuidado fragmentado no sistema de saúde brasileiro. “A transformação é gradual e inevitável, temos que dar passos”, frisou. “Acredito que o pagador tem papel fundamental para escalar novos modelos. Se o pagador não é o grande indutor do valor, não acontece”, afirmou. Ana Paula Oliveira, gerente de HEOR e Pricing na Bristol Myers Squibb, garantiu que a indústria farmacêutica já entendeu a importância do tema de precificação da saúde. “Já temos diversos frameworks para que a gente possa sentar à mesa com os demais players e discutir soluções que sejam boas para todas as partes”, relatou.

Ainda no turno da manhã, Guilherme Nogueira, gerente de Marketing do Grupo Maxitex, falou sobre sustentabilidade, com foco na reciclagem de uniformes e roupas de cama descartados por hospitais. O último painel abordou o papel estratégico da cadeia de suprimentos na acreditação hospitalar, com participação de Juarez Leites, coordenador de Qualidade e Riscos do Hospital Moinhos de Vento, e Rafaela Vedovelli, avaliadora e consultora em Sistemas de Gestão em Saúde do Grupo IBES. Ambos destacaram a importância do comprometimento de fornecedores de suprimentos com práticas ESG.

Negociação e vendas em debate

O evento teve continuidade durante a tarde com uma discussão sobre a gestão de consignação de órteses, próteses e materiais especiais, com Francisco Waldir Souza, da Santa Casa de Porto Alegre, Renata Ferreira, do Hospital de Clínicas, e Gabriela Ortiz, do Hospital Mãe de Deus. Na sequência, André Menegazzo, das Farmácias São João, e Rodrigo Santos, da Distribuidora Hospitalar Unimed RS, falaram de tecnologia e boas práticas em inventário hospitalar, com moderação de Fernanda Corso, da São Pietro Hospitais e Clínicas.

Depois, Rafael Machado de Oliveira, do SEBRAE, e Daiane Seganfredo, do Hospital Moinhos de Vento, discutiram técnicas de negociação e vendas. O encontro encerrou com um painel sobre gestão estratégica de serviços e obras, com as palestras de Juliana Devos, da Rede de Saúde Divina Providência, Rodrigo Aristides, do Hospital Moinhos, e Marcos Leandro, da Santa Casa de Porto Alegre, com moderação de Claudia Caon, da LifePlus. Houve também uma palestra patrocinada sobre o papel da logística inteligente, com Juliano Jorej, da UHT Logística, e moderação de Pamela Fernandes, do Hospital Mãe de Deus.

A 3ª Health Meeting Brasil / SINDIHOSPA é realizada pela HM Brasil Feiras e Congressos e pelo SINDIHOSPA, com patrocínio da Unimed Porto Alegre, Unicred Porto Alegre, Secretaria Estadual do Turismo e Sebrae.