Um incêndio em um grande hospital de Porto Alegre deixa 41 vítimas, entre mortos e feridos. Pacientes são deslocados para outras unidades de saúde, enquanto o combate às chamas envolve uma enorme operação do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul, Defesa Civil, forças de segurança e sistema hospitalar — e até um helicóptero do Batalhão de Aviação da Brigada Militar foi utilizado. Felizmente, não foi um evento real: foi uma simulação pensada justamente para preparar e testar a reação da cidade caso um desastre dessa magnitude aconteça.
Esse foi o roteiro de um simulado de desastre ocorrido neste domingo (19), em Porto Alegre. A operação, organizada pelo Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (SINDIHOSPA), envolveu mais de 100 pessoas na representação de um incêndio no Hospital Moinhos de Vento. Foi a terceira iniciativa realizada pela entidade, num trabalho que vinha sendo planejado desde o ano passado e se estendeu ao longo de várias horas.
Na atividade, foi simulado um incêndio no bloco 15 do Moinhos, que afetou os quatro andares da edificação e gerou uma grande quantidade de fumaça. Alunos do curso de Enfermagem da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS e da Liga Acadêmica de Urgência e Emergência da Faculdade FACTUM representaram as dezenas de vítimas, enquanto estudantes da UFRGS foram as “sombras”, acompanhando o processo e verificando a agilidade de cada etapa.
O atendimento começou no próprio hospital, com o deslocamento dos pacientes para outras instituições da rede da capital, com atuação do SAMU e do Corpo de Bombeiros — que reproduziu o combate ao fogo e rescaldo dos danos. A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e a Defesa Civil também participaram do evento, enquanto o Instituto Geral de Perícias lidou com as fatalidades.
“Porto Alegre tem uma rede de saúde ampla, de alta qualidade e, sobretudo, solidária, como já mostrou em outras situações parecidas, mas de menor magnitude. Com simulações como essa, reforçamos a capacidade dos setores de saúde e segurança para responder à altura a eventos semelhantes, evitando a perda de muitas vidas”, enfatiza o presidente do SINDIHOSPA, Henri Siegert Chazan.
Na avaliação do comandante do 1º Batalhão de Bombeiros Militar, tenente-coronel Marcelo Carvalho Soares, todo evento simulado é extremamente importante pela forma como ele prepara as equipes. “Não é somente aferir, mas até mesmo mudar procedimentos, comportamento das guarnições e fazer com que tenhamos uma condição mais próxima da realidade”, esclareceu.
Longa preparação
A preparação para o simulado deste domingo começou em 2022, com mais de uma centena de profissionais do Sindicato, Hospital Moinhos e forças da saúde e segurança, para que tudo ocorresse, dentro do possível, como um desastre real. Os bombeiros foram deslocados para agir como se um incêndio estivesse acontecendo. Ambulâncias do SAMU e das empresas Transul, Ecco Salva, Unimed e SulVida levaram as “vítimas” para atendimento em oito hospitais: Clínicas, Mãe de Deus, Cristo Redentor, Divina Providência, Independência, Ernesto Dornelles, São Lucas da PUCRS e Santa Casa, além do próprio Moinhos. Os estudantes receberam ainda maquiagem para representar ferimentos causados pelo fogo e fumaça.
Ao longo do dia, um trecho da rua Doutor Vale também foi bloqueado para garantir a execução dos trabalhos — e os vizinhos da região foram previamente alertados, para não se assustarem com a movimentação. A operação não afetou o funcionamento do Hospital Moinhos, que atendeu normalmente os pacientes internados e, também, no serviço de Emergência.
Os resultados do simulado serão compilados em relatórios, a partir dos quais os órgãos e instituições envolvidas poderão avaliar a performance da resposta e propor melhorias que sejam necessárias no atendimento — a cidade conta com a Comissão Permanente de Atuação em Emergência (COPAE), que reúne toda a rede de pronta resposta para esses eventos.
“Com esse trabalho integrado contribuímos para que a nossa capital esteja preparada para enfrentar situações de calamidade ou emergências. A união de diferentes órgãos da sociedade é essencial para a manutenção do funcionamento do sistema de saúde em situações reais. Cuidar das pessoas é o nosso propósito”, afirma Vania Röhsig, superintendente Assistencial e de Educação do Hospital Moinhos de Vento.
Histórico
Este foi o terceiro simulado de desastre realizado pelo SINDIHOSPA na capital gaúcha. A primeira edição ocorreu em 2016, reproduzindo uma colisão entre carro e ônibus na avenida Ipiranga, em frente à Federação Gaúcha de Futebol. Mais de 100 pessoas participaram da ação, que teve 34 “vítimas”.
Já em 2018, ocorreu mais uma simulação, dessa vez testando a reação ao desabamento do teto de um auditório lotado no Senac Saúde, no bairro Passo D’Areia. O exercício contou com 200 envolvidos, sendo 65 pessoas “feridas” e um “óbito”.
Fotos: Leonardo Lenskij