Um dos maiores problemas do século XXI é a resistência microbiana crescente aos antibióticos. Com base nas estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), esse cenário se tornará a causa da morte de 10 milhões de pessoas até 2050. A razão, o controle e meios seguros para a prevenção estiveram no centro do debate na terceira edição da Jornada de Controle e Prevenção de Infecção realizada nesta sexta-feira (5).
A atividade, promovida pelo Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (SINDIHOSPA), reuniu especialistas nacionais na capital gaúcha, ao longo de todo o dia — no prédio 50 da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). “No ano que o Sindihospa completa 60 anos de história, celebramos também os 18 anos de compromisso na promoção de conhecimento. Ver todas essas pessoas aqui hoje é o motivo para continuarmos esse trabalho”, destacou a Gerente de Serviço e Melhores Práticas, Alessandra Dewes.
O dilema que envolve os microrganismos multirresistentes foi abordado pelo Coordenador Médico de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital São Lucas da PUCRS, Diego Falci. Em sua participação no painel Debatendo as medidas de bloqueio epidemiológico, o especialista abordou o avanço da resistência microbiana. “As medidas de controle de infecção são indispensáveis, são fundamentais, mas ainda precisamos refletir sobre alguns dilemas relacionados a estas práticas”, avaliou.
Apesar de muitas recomendações já existirem, o médico trouxe situações em que não há evidências suficientes ou em que há efeito colateral, como depressão e ansiedade, principalmente em casos nos quais os pacientes ficam em isolamento. A enfermeira especialista em controle de infecção hospitalar do Hospital Humaniza, Camila Piuco Preve, dividiu o painel, abordando o impacto global que doenças como o Sarampo, a COVID-19 e Varíola dos Macacos (Monkeypox) ocasionam. “Vamos sofrer muito ainda com essas doenças infectocontagiosas, diversas ações humanas contribuem para isto”, ressaltou.
Entre os fatores elencados pela palestrante, estão: fatores climáticos, invasão de território ocupado por animais silvestres, crescimento do agronegócio, medidas de saúde pública desiguais, diminuição da procura por vacinas, pobreza, fome e guerras. Com a experiência adquirida a partir das medidas de controle de infecção, utilizadas no período da COVID-19, Camila explicou que as resoluções têm sido norteadoras para lidar com uma crise sanitária que ainda não terminou, e que recomeça com os casos de Monkeypox.
Higiene das mãos
O pequeno ato de lavar as mãos tem um grande potencial de prevenir o contágio e evita novas infecções. O hábito foi amplamente defendido durante todo o período de pandemia pelo Coronavírus. No entanto, fazem 175 anos que o médico Ignaz Semmelweis demonstrou que a higienização era eficaz ao evitar a morte de parturientes. A enfermeira de controle de infecção do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Loriane Rita Konkewicz, resgatou o histórico, ao destacar a grande evolução até os tempos atuais. “Agora, nós temos evidências científicas sobre isso, vivemos um outro tempo”, salienta.
A higienização das mãos está contemplada nos cinco passos adotados pelas instituições hospitalares. A adesão por parte dos profissionais de saúde é indispensável, conforme explica a enfermeira e consultora em controle de infecção no estado de Santa Catarina, Graziela Vieira. “Programas de controle de infecção eficientes, são capazes de reduzir até 70% a incidência de novos casos”, ressaltou, ao falar sobre a importância da conscientização constante e o envolvimento da gestão das instituições para os bons resultados.