Saúde mental permeia debates no último dia da Health Meeting 2025

Painéis abordaram o crescimento dos transtornos na população em geral e entre os profissionais de saúde

A saúde mental esteve no foco de dois eventos que marcaram o último dia da Health Meeting Brasil/SINDIHOSPA, nesta quinta-feira (23), na PUCRS. Pela manhã, o assunto foi abordado por especialistas durante o 2º Fórum de Tendências em Gestão de Pessoas para as Lideranças da Saúde, que debateu temas como saúde mental, liderança humanizada, assédio no ambiente de trabalho e inteligência artificial. 

A consultora em gestão de pessoas Jaqueline Mânica falou sobre burnout e como cultivar saúde mental nas organizações da saúde. “O Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo e o 5º país mais depressivo. Temos uma sociedade bastante adoecida”, afirmou, destacando que a pressão é inerente ao trabalho na área de saúde. Na avaliação de Wania Baia, diretora assistencial do Hospital Sírio Libanês, a felicidade no trabalho é essencial para o sucesso organizacional e deve estar no planejamento estratégico das empresas do setor de saúde. “Os chefes têm mais impacto na saúde mental do que os terapeutas”, afirmou.

O assédio, seja moral ou sexual, também afeta a saúde mental dos trabalhadores, alertou o advogado Fabiano Clementel. Segundo ele, o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-4) – com jurisdição sobre o Rio Grande do Sul – recebe, em média, 12 casos de assédio por dia. “Hierarquia muito marcada, ambientes sob forte pressão e contato físico e emocional intenso entre profissionais e com pacientes são características que exigem atenção no setor de saúde”, pontuou. “Liderar é criar um ambiente livre de medo e assédio”, finalizou.

Vania Röhsig, superintendente assistencial e de educação do Hospital Moinhos de Vento, falou sobre a necessidade de priorizar programas de atração, desenvolvimento e retenção de talentos nas organizações de saúde, especialmente na estrutura de enfermagem. A área foi abandonada por muitos profissionais durante e após a pandemia. “A única profissão que está 24 horas na beira do leito é a enfermagem. O paciente busca o médico para fazer um procedimento, mas escolhe o hospital pelo cuidado da enfermagem”, ponderou. No encerramento do Fórum, Harold Schultz Neto, Head de produto e IA da americana Labrynth abordou o uso da  inteligência artificial na área de gestão de pessoas.

Desafios na assistência à transtornos mentais

No turno da tarde, o 1º Simpósio de Inovação e Desafios em Saúde Mental no Brasil promoveu reflexões sobre questões como barreiras de acesso, custo-efetividade e os impactos da nova NR-1, com apresentação de cases e soluções sustentáveis e transformadoras.

O primeiro painel abordou a assistência à saúde mental. Andrea Bandeira, pró-reitora de Saúde PUCRS, apresentou dados alarmantes: a Organização Mundial da Saúde estima que uma em cada oito pessoas vive com algum transtorno mental, e esses transtornos já ultrapassaram doenças infecciosas e respiratórias em impacto na produtividade e incapacidade funcional. “Como é possível pensar a saúde sem pensar a saúde mental?”, provocou. Entre os desafios atuais, ela destaca a sobrecarga dos CAPS e serviços ambulatoriais, a escassez de profissionais especializados e o adoecimento mental das próprias equipes.

Segundo Ana Cristina Tietzmann, presidente da Associação de Psiquiatria do RS, 50% dos pacientes na rede básica de saúde têm alguma queixa relacionada à saúde mental. “Os serviços de cuidado com saúde mental precisam estar integrados à atenção primária, é um direito humano universal”, enfatizou.

A questão também preocupa as operadoras de saúde, especialmente a sustentabilidade e custo-efetividade da cobertura para tratamento dos transtornos mentais graves. Marcelo Hartmann, superintendente da Unimed Porto Alegre, citou o exemplo dos Transtornos do Espectro Autista (TEA), apenas em 2025, os investimentos na cobertura de TEA devem chegar a R$ 75 milhões. 

Na sequência, Carlos Gustavo Arribas, consultor da Gerência de Atenção à Saúde Mental da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, apresentou o caso da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do Estado. Já Adriane Rodrigues, supervisora de Saúde da Stihl, trouxe a visão das corporações sobre o tema. De acordo com a OMS, os transtornos mentais causam uma perda econômica anual global de US$ 1 trilhão devido à redução de produtividade e aos custos com saúde. 

A NR 1, de 2025 tornou obrigatório o compromisso das empresas com saúde mental, exigindo avaliação e gerenciamento de riscos psicossociais no ambiente de trabalho. Até maio de 2026, as organizações deverão implementar medidas de prevenção e capacitar trabalhadores e gestores. “A NR 1 é o cinto de segurança das organizações”, resumiu Jaqueline Mânica.

Lucas Spanemberg, coordenador do Programa de Psiquiatria Intervencionista do Hospital São Lucas da PUCRS, questionou o atual modelo de remuneração na saúde, focado no volume de procedimentos e custos. “Não importa a qualidade do serviço, por isso ninguém atua em prevenção e informação. No caso de Transtornos Mentais Graves, temos um modelo reativo, que age na crise, quando o custo é muito maior”, avaliou. O simpósio terminou com uma roda de conversa sobre inovações e desafios no cuidado em saúde mental no Brasil.

Palestra internacional é destaque 

Fechando a programação nesta quinta-feira, a Health Meeting contou com a 5ª Jornada Internacional de Segurança do Paciente. Organizado pela Safery4Me, o evento teve como destaque a palestra online de Henrietta Hughes, primeira comissária de segurança do paciente do National Health Service, o sistema público de saúde do Reino Unido.

A feira teve também o 2º Health Law Meeting, realizado pelo RMM Advogados, fazendo discussões sobre o direito na área saúde, e o 2º Oftalmo Meeting da São Pietro, abordando temas atuais da oftalmologia. Além disso, a Health Meeting promoveu a primeira edição da Jornada de Engenharia Clínica.

Outro destaque foi a batalha de startups. A PIPAC Brasil foi eleita a vencedora, oferecendo soluções inovadoras que unem cirurgia e quimioterapia em um único procedimento minimamente invasivo. A startup contará com apoio da Ventiur Smart Capital em seu processo de aceleração.

A 3ª Health Meeting Brasil / SINDIHOSPA foi realizada pela HM Brasil Feiras e Congressos e pelo SINDIHOSPA, com patrocínio da Unimed Porto Alegre, Unicred Porto Alegre, Secretaria Estadual do Turismo e Sebrae.